
Por Redação Ouller
Em 2025, o uso de dinheiro em espécie voltou a crescer em diversas regiões do Brasil, mesmo após anos de avanço das carteiras digitais, dos aplicativos de banco e dos pagamentos instantâneos. O movimento, observado especialmente em centros urbanos de médio porte e áreas comerciais populares, acende um sinal de alerta sobre a percepção de risco em relação ao sistema bancário tradicional.
Relatórios de circulação de moeda do Banco Central indicam aumento na retirada de cédulas de alto valor e maior volume de transações em espécie, especialmente nos setores de varejo, prestação de serviços e alimentação fora do lar. Em paralelo, empresas de transporte de valores e redes de autoatendimento registraram crescimento no número de operações físicas, contrariando as previsões de digitalização integral.
A reversão parcial dessa tendência está associada a fatores como instabilidade técnica, sensação de vulnerabilidade digital, aumento de fraudes virtuais e mudanças na confiança em instituições financeiras. Episódios de falhas em sistemas bancários, bloqueios judiciais automáticos e regras rígidas de compliance levaram parte da população a retomar hábitos antigos de gestão de caixa, mesmo com a perda de praticidade.
Em setores com maior volume de transações informais, o dinheiro voltou a ser a forma preferencial de pagamento. Pequenos comércios, feiras, serviços autônomos e transportes alternativos passaram a incentivar o uso de cédulas, tanto para reduzir taxas como para evitar exposição de dados. Em alguns casos, a escolha está relacionada a fatores culturais. Em outros, trata-se de uma medida deliberada para manter flexibilidade financeira imediata.
O crescimento do uso de dinheiro também vem sendo associado a uma percepção mais cautelosa sobre a rastreabilidade das transações. Em um ambiente onde todas as movimentações eletrônicas são cruzadas, declaradas e potencialmente monitoradas por diferentes entes públicos e privados, parte dos consumidores passou a valorizar a privacidade e o controle absoluto sobre os próprios recursos. Essa mudança não necessariamente indica ilegalidade, mas aponta para uma demanda crescente por autonomia financeira direta.
Embora o sistema bancário brasileiro continue robusto e funcional para a maioria dos usuários, o aumento da circulação de dinheiro físico mostra que a confiança plena no digital ainda enfrenta limites. Em determinados segmentos da população, o uso do papel-moeda representa não apenas um hábito, mas um posicionamento prático diante de um ambiente percebido como excessivamente burocrático, vulnerável ou invasivo.
A tendência não indica um retorno generalizado ao modelo antigo. Pagamentos digitais seguem sendo predominantes em grandes redes, serviços online e ambientes de maior valor agregado. Mas o crescimento do dinheiro em circulação sugere que, mesmo em um país altamente conectado, a segurança percebida ainda depende de fatores que vão além da tecnologia. Em 2025, o dinheiro físico permanece como um símbolo de reserva, autonomia e resposta a um cenário de incertezas operacionais e institucionais.